27.1.08

Fórum Social Mundial enfrenta as suas próprias contradições em 2008


Fórum Social Mundial enfrenta as suas próprias contradições em 2008


por jpereira — Última modificação 24/01/2008


Neste ano, organização aposta na descentralização com um Dia de Ação Global programado para várias regiões do mundo

24/01/2008
Pedro Carrano
de Curitiba (PR)


Diversas formas de luta realizadas em vários pontos do planeta. Esse será o 26 de janeiro, data escolhida para o Dia de Ação Global, atividade ligada ao Fórum Social Mundial (FSM). O objetivo é, novamente, fazer um contraponto ao Fórum Econômico Mundial – encontro da elite mundial, em Davos (Suíça) e que acontecerá na mesma época.
Para este ano, a grande novidade do FSM é a descentralização e a auto-gestão. Dessa vez, organizações, entidades, coletivos e redes, de qualquer parte do mundo, planejam sua própria manifestação. É certo que o Fórum passa por um sério momento de avaliação crítica e a mudança no formato decorre disso. A coordenação quer aprofundar a polarização do FSM em relação ao encontro da Suíça conferindo-lhe um caráter de processo; e não apenas de evento.


“A descentralização do Fórum já era debatida desde a primeira edição. Havia a necessidade de que diversas regiões do mundo pudessem ter contato com as atividades, o que não era possível com o formato continental”, explica Elda Alvarenga, integrante do coletivo capixaba de apoio ao FSM.


Para viabilizar esse novo modelo, a internet é a ferramenta indispensável do FSM. A idéia é que, a partir da página eletrônica, as organizações se articulem e troquem fotos e vídeos diretos do local de ação. Até o dia 5, 850 organizações de 64 países estavam cadastradas no site (http://www.wsf2008.net/), com média de uma ação inscrita a cada três horas.


A Marcha Mundial de Mulheres (MMM) é uma das entidades com atividades programadas em diferentes países. Nas palavras de Sônia Coelho, organizadora de um ato do movimento em São Paulo (SP), o objetivo será denunciar “a violência no mundo, na guerra, na casa e no trabalho: as várias faces da repressão produzidas e reproduzidas no modelo neoliberal”.


Outro exemplo é o do comitê do FSM em Minas Gerais, que contribui na organização e na unidade dos movimentos locais. De acordo com Maria Dirlene Trindade Marques, do Sindicato de Economistas e da coordenação do comitê mineiro do Fórum, quatro quarteirões na Praça Sete, na capital Belo Horizonte, serão ocupados com o trabalho de diferentes organizações. Cada quarteirão será dividido segundo a seguinte temática: Vale do Rio Doce, “a água não é mercadoria”, “nenhum direito a menos” e comunicação e cultura. Em 2007, o Fórum teve como palco a cidade de Nairobi (Quênia), e em 2009 retorna ao mesmo formato e ao Brasil; desta vez em Belém (PA).


Superando dilemas


De acordo com Gustavo Codas, da coordenação nacional do FSM e assessor de relações internacionais da Central Única dos Trabalhadores (CUT), o formato do Dia de Ação Global leva o princípio de que o FSM deve ser “um processo e não apenas um evento”.
O formato deste ano, porém, não tem a mesma visibilidade de um Fórum centralizado. Nairóbi, por exemplo, mobilizou 70 mil pessoas. Codas reconhece que a grande massa não participa do encontro global no formato centralizado. “É o início da tentativa de responder a esse desafio, de fazer o Fórum chegar onde as pessoas estão”, comenta.


Existem críticas de que o FSM se equilibra entre organizações que não abraçam pautas políticas, ou então são patrocinadas por grupos empresariais. Ao mesmo tempo, o Fórum conta com a presença de organizações populares genuínas, mas ainda necessita da presença de outros movimentos de peso, como representantes do Exército Zapatista de Liberação Nacional (EZLN), que já foram convidados para participar, mas ainda não deram resposta.


Até mesmo o intelectual de esquerda Immanuel Wallerstein, dos Estados Unidos, entusiasta do Fórum como espaço de articulação da esquerda, reconhece a contradição: “A tensão entre algumas das maiores ONGs (cujas sedes e força estão no Norte, e que apóiam o FSM, mas também aparecem em Davos) e dos militantes de movimentos sociais (particularmente fortes no Sul, mas não só) continua real”, descreveu em texto publicado na página do Fórum.


Codas entende que a metodologia do FSM deste ano contribui para uma maior organicidade do evento em relação aos movimentos populares. “O Fórum enfrenta impasses vinculados aos desafios dos próprios movimentos na atual conjuntura. Se olharmos desde o ambiente de 2000, quando o Fórum foi criado, houve mudanças na conjuntura mundial e regional, em meio ao discurso de que não havia alternativas. O FSM teve papel nos combates acontecidos, só que hoje o cenário é diferente, não que estejamos no pós-neoliberalismo, mas há um desgaste do neoliberalismo e o caminho para experimentação de alternativas está aberto”, avalia Codas. (Colaborou Luciana Silvestre, de Vitória – ES)

-> Ações em mais de 80 países


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