27.1.08

Ex-agente diz que Jango foi morto a pedido do regime militar

27 DE JANEIRO DE 2008 - 14h26
Ex-agente diz que Jango foi morto a pedido do regime militar
O regime militar (1964-1985) não só espionou João Goulart, o Jango, durante anos como também ordenou a morte do ex-presidente em 1976. É o que afirma Mario Neira Barreiro, um ex-agente do serviço de inteligência do governo uruguaio, preso desde 2003 na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (RS).
Jango morreu em 6 de dezembro de 1976, na Argentina, oficialmente de ataque cardíaco. Ele governou o Brasil de 1961 até ser deposto por um golpe militar em 31 de março de 1964, quando foi para o exílio.

Em entrevista à Folha de S.Paulo, Barreiro, de 54 anos, deu detalhes da operação da qual participou e declarou que ele próprio se encarregou da espionagem durante quatro anos. Segundo o ex-agente, Jango não morreu de ataque cardíaco — mas envenenado —, após ter sido vigiado 24 horas por dia de 1973 a 1976.

Barreiro disse que Sérgio Paranhos Fleury (que morreu em 1979), à época delegado do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) de São Paulo, era a ligação entre a inteligência uruguaia e o governo brasileiro. A ordem para que Jango fosse morto partiu de Fleury, em reunião no Uruguai com dois comandantes que chefiavam a "equipe Centauro" — grupo integrado por Barreiro que monitorava Jango.

As escutas, feitas e transcritas por Barreiro, teriam servido de motivo para matar Jango. Mas, segundo o ex-agente (que tinha o codinome de tenente Tamúz), o conteúdo das conversas não era grave: tratavam da vontade de Jango de voltar ao Brasil, de críticas ao regime militar e de assuntos domésticos. Barreiro afirmou que interpretações "erradas e exageradas" do governo brasileiro levaram ao assassinato.

Segundo o uruguaio, a autorização para que isso ocorresse partiu do então presidente Ernesto Geisel (1908-1996) e foi transmitida a Fleury,. A partir disso, o delegado acertou com o serviço de inteligência do Uruguai os detalhes da operação, chamada Escorpião — que teria sido acompanhada e financiada pela CIA (agência de inteligência americana).

O plano consistia em pôr comprimidos envenenados nos frascos dos medicamentos que Jango tomava para o coração: o efeito seria semelhante a um ataque cardíaco. As cápsulas envenenadas eram misturadas aos remédios no Hotel Liberty, em Buenos Aires, onde morava a família de Jango, na fazenda de Maldonado e no porta-luvas de seu carro. À Folha, Barreiro não exibiu provas e disse que o caso era discutido pessoalmente.
http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=31620

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