27.1.08

Sombras e neblinas: as marcas do Fórum de Davos 2008

26 DE JANEIRO DE 2008 - 20h00
Sombras e neblinas: as marcas do Fórum de Davos 2008
Foram-se os tempos em que as elites neoliberais deixavam Davos aos abraços e risos. O Fórum anual de Davos — ou Fórum Econômico Mundial — chegou ao fim neste sábado (26), na bela cidade suíça, em meio a sombrias perspectivas para 2008. A razão da mudança de humor está nos Estados Unidos, um país cuja economia não consegue se livrar do fantasma da crise.
Bom humor, só nos protestos
Muitos especialistas apontam como iminente a recessão americana — com impactos que se espalham como vírus pelo restante do mundo. O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, pediu que os americanos adotem uma ''resposta séria'' para enfrentar a forte queda do crescimento.

A bronca veio uma semana depois de o presidente americano, George W. Bush, ter anunciado um plano de US$ 145 bilhões para tentar estimular a economia. Em seguida, na terça-feira 22, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) reduziu os juros em 0,75%, a 3,50%.

Strauss-Kahn sabia muito bem disso quando discursou no Fórum de Davos 2008: ''Qualquer que seja a conseqüência da recessão, o que está claro é que haverá uma séria desaceleração (nos Estados Unidos) que necessita de uma resposta séria''. É como se o barão do FMI sugerisse que as medidas adotadas até agora pelo governo de Bush não são suficientes.

Contraste

O pessimismo deste ano em Davos contrasta com o clima dos anos anteriores. Nas outras edições, os neoliberais festejavam o cenário internacional e suas preponderâncias — o forte crescimento, a baixa inflação, os grandes ganhos das empresas, etc.

Desta vez, no entanto, o temor de uma recessão nos Estados Unidos e seu impacto na economia mundial — como a volatilidade dos mercados financeiros e a contração do crédito — dissolveram a confiança da elite econômica e dos políticos neoliberais mundo afora.

O diretor-gerente do FMI apontou ainda que, além de estimular o crescimento através da política monetária, alguns países têm margem de manobra para flexibilizar sua política fiscal. As afirmações de Strauss-Kahn ''indicam a gravidade da situação que enfrentamos'', assinalou o ex-secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Larry Summers.

''Pela primeira vez em 25 anos, o diretor-gerente do FMI pediu um aumento dos déficits orçamentários, quando tradicionalmente solicita o inverso'', lembrou Summers. Strauss-Kahn indicou que uma desaceleração econômica provocaria, nas próximas semanas ou meses, uma queda da inflação que permitiria a alguns bancos centrais reduzir o custo do crédito para estimular a economia.

Empecilhos

A cidade de Davos, na Suíça, recebeu durante cinco dias quase 30 chefes de Estado e mais de 110 ministros, assim como centenas de diretores das empresas mais importantes do mundo. O cenário adverso já causa os primeiros arranhões diplomáticos.

A ministra da Economia da França, Christine Lagarde, aproveitou o encontro para pedir novamente que o BCE (Banco Central Europeu) reduza suas taxas. O argumento francês é que só a redução pode combater a desaceleração econômica. ''Consideremos a política monetária observando o crescimento, e não apenas a estabilidade dos preços'', declarou Christine Lagarde.

Contudo, o presidente do BCE, Jean Claude Trichet, insistiu durante a reunião que a luta contra a inflação continua sendo a meta prioritária da instituição. E assim o Banco Europeu segue resistindo às pressões de vários países — e não só da França.

Risco global

Os receios não se restringem à Europa. Em nome do FMI, Strauss-Kahn pediu uma solução global para os atuais problemas econômicos, que se originam no mercado imobiliário americano — mas que atingiram o sistema financeiro d o mundo inteiro. ''Tudo isso mostra que necessitamos de maior regulação multilateral'', estimou.

O primeiro-ministro do Japão, Yasuo Fukuda — que preside este ano o grupo dos sete países mais ricos do mundo mais a Rússia (G8) — também manifestou preocupações. Fukuda advertiu que a crise dos créditos hipotecários de risco nos Estados Unidos e a alta dos preços do petróleo aumentam o risco de que a economia mundial comece a encolher.

“Não há necessidade de se ter uma visão extremamente pessimista da situação atual”. Mas, ao mesmo tempo, precisamos ter um senso de urgência e adotar ações coordenadas, enquanto cada país implementa as medidas domésticas necessárias”, exortou o líder do G-8.

Enquanto isso, “do lado de fora” do encontro, manifestantes abaixaram as calças e mostraram as nádegas em protesto para os fotógrafos. Foi a primeira edição do Fórum Econômico Mundial em que o consenso e o bom humor só se manifestaram à margem da reunião das elites.

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Da redação, com agências

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