12.12.07

Conheça o perfil do novo presidente da UBES, Ismael Cardoso


9 de dezembro de 2007Conheça o perfil do novo presidente da UBES, Ismael Cardoso


Com rápida ascensão no movimento estudantil, o estudante carioca de 21 anos que presidirá a UBES no aniversário de seus 60 anos diz que a juventude brasileira continua rebelde, querendo fazer política do seu próprio jeito


Até chegar à presidência da UBES, tudo aconteceu muito rápido na vida do carioca Ismael Cardoso, 21 anos, que terá o desafio de conduzir, pelos próximos dois anos, a entidade que representa cerca de 50 milhões de estudantes secundaristas do Brasil. Aluno de um cursinho em São Paulo, aspirante ao curso de Economia, não tem histórico de militantes ou políticos na família: "Na verdade me apaixonei por isso tudo aos 14 anos, folheando um livro de história emprestado da minha irmã", disse.


Dessa primeira apresentação à revolução cubana, Che Guevara e Fidel Castro, até a participação no grêmio da sua escola –o tradicional colégio Visconde de Cairu– foi um passo. Na verdade, entre 2002 e 2004, concorreu a três eleições para a presidência do grêmio. Perdeu as três, mas levou numa boa: "No movimento estudantil, aprendemos muito a respeitar o contraditório e a valorizar a saudável disputa de idéias. Perdendo ou ganhando, o que importa é construir consensos", diz.


Mas não foi só o espírito político que Ismael aprendeu nesse período. Quando perguntado sobre dois livros que considera favoritos manda logo dois autores de economia: Celso Furtado e Caio Prado Júnior. Apesar de demonstrar um interesse acima do comum por esses temas, em relação aos outros jovens de sua idade, garante que não é "cabeção". Como bom-carioca, no futebol prefere o Vasco, no carnaval é Salgueiro e, no samba, vai de Cartola e Paulinho da Viola.
Ainda enquanto aluno do Visconde de Cairu, Ismael se aproximou de uma galera animada com a reconstrução da Associação Municipal dos Estudantes Secundaristas (Ames-RJ), que havia passado por um período sem atividades. Desse envolvimento, veio o convite para assumir, em 2004, o cargo de diretor de Políticas Educacionais da entidade.


Sua liderança o levou a ser eleito coordenador-geral das Ames em 2005. A gestão se destacou por ter reorganizado o movimento estudantil secundaristas no estado do Rio de Janeiro. A bandeira principal foi a luta em defesa do Passe Livre, com passeatas e muita pressão sobre os empresário do transporte público.


No final de 2005, participou do seu primeiro Congresso da UBES, que elegeu o amigo Thiago Franco para a presidência. Foi também neste 36º Congresso que ele se viu de frente com um novo desafio: então com 19 anos, eleito para assumir a diretoria de Políticas Educacionais da UBES, teve que deixar a Coordenação da Ames e se mudar para São Paulo, onde fica a sede nacional da entidade.


Já no começo da gestão, ajudou a construir um dos maiores movimentos da UBES nos últimos anos: o Dia Nacional de Luta Pelo Passe Livre, em 22 março de 2006. Essa série de manifestações reuniu, simultaneamente, cerca de 200 mil estudantes nas ruas em praticamente todas as capitais do país. A manifestação intensificou e tornou nacional o debate sobre o Passe Livre. Ao longo da gestão, acabou assumindo uma das funções de maior responsabilidade da UBES: a tesouraria.


Proposta Ismael se mostra seguro. Ele acredita que a UBES pode, no próximo período, coordenar uma grande mobilização, em conjunto com os movimentos sociais brasileiros, em defesa de um pacto nacional pela educação. "As condições políticas são ideais para criar uma convergência numa ampla e unificada campanha, recolocando a educação básica como fator estratégico de desenvolvimento para o país", diz.


Para a escola, defende uma reforma curricular que passe a priorizar a formação humana e reflexiva do estudante, com a implantação de gestões democráticas nas instituições. Considera o vestibular um processo injusto de seleção, que deve aos poucos ser substituído por uma nova forma de ingresso no ensino superior. "Isso deve ser muito pensado com todos os movimentos ligados à educação", diz.


Repudia e promete derrubar a proposta de redução da maioridade penal, quer ver um investimento de 7% do PIB na educação e diz que vai lutar pela ampliação da reserva de vagas, nas universidades federais, para alunos da rede pública de ensino.


Pretende, ainda, priorizar a diversificação das pautas do movimento estudantil secundarista, trazendo para mais perto do estudante o debate de temas como a luta contra a homofobia nas escolas, a superação do machismo no movimento, a liberdade do conhecimento com a defesa do software livre e o combate ao racismo. "Isso sem perder de vista o caráter de enfrentamento que os estudantes secundaristas sempre tiveram, ampliando as mobilizações de rua e mantendo sempre a irreverência características da juventude", ressalta.


60 anosCom muita coisa para falar e cheio de vontade de fazer, o presidente dos 60 anos da UBES (que serão completados em julho de 2008) é uma prova de que a entidade continua revigorada, assim como a juventude brasileira, tão injustamente criticada. Teve ascensão rápida no movimento estudantil e garante que sua geração não é menos rebelde que outras: "A mídia tenta mostrar para o estudante que política é só o que se faz de errado na Câmara e no Senado, mas a política é muito mais. O jovem brasileiro quer fazer política do seu próprio jeito", afirma.


Artenius DanielRafael Minoro


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