29.7.09

Na noite desta terça-feira, 28, foram concluídas as atividades do Grupo de Trabalho que tenta localizar os corpos dos guerrilheiros mortos durante a G

Na noite desta terça-feira, 28, foram concluídas as atividades do Grupo de Trabalho que tenta localizar os corpos dos guerrilheiros mortos durante a Guerrilha do Araguaia. O GT foi criado por decreto do presidente Lula para dar cumprimento à decisão proferida pela juíza federal Solange Salgado, da 1ª Vara da Seção Judiciária de Brasília, em ação movida por familiares contra a União.

A primeira etapa consistiu basicamente no reconhecimento e mapeamento dos lugares onde ocorreram confrontos entre guerrilheiros e as forças militares e ainda dos lugares onde provavelmente poderão estar sepultados os mortos. Os trabalhos foram coordenados pelo Ministério da Defesa, através do Consultor Jurídico Edmundo Muller, e dirigidos pelo General de Brigada, Mário Lucio Alves de Araújo, Comandante da 23ª Brigada de Infantaria de Selva, sediada em Marabá, no Pará.

Também integraram os trabalhos uma equipe composta por geólogos e antropólogos da Universidade de Brasília e médicos legistas do IML do Distrito Federal e ouvidores independentes integrantes do Museu Emilio Goeldi de Belém, além de representantes do governo do estado do Pará e um observador do PCdoB.

Durante 20 dias ininterruptos de trabalho, a um custo aproximado de cerca R$ 650 mil reais, foram visitados 17 locais, sendo quatorze deles indicados nos relatórios do Ministério da Defesa, e os três outros indicados por guias e mateiros que colaboram com as forças militares durante a guerrilha. As visitas foram realizadas de carros, a pé e no lugar de difícil acesso, como na Serra das Andorinhas, foi utilizado o helicóptero.

A operação teve o apoio logístico de um helicóptero Cougar, de fabricação francesa, com capacidade para vinte passageiros e cinco tripulantes; três caminhões, três jipes, quinze camionetes e a participação e a assistência direta de quatro coronéis, três majores, três capitães, dois tenentes, cinco sargentos, todos das áreas especializadas de topografia e análise de imagens do Exercito brasileiro, e quinze soldados.

Das áreas visitadas, o grupo decidiu, após parecer dos técnicos, que na segunda etapa dez áreas serão objeto de análise com a utilização de GPR (Radar de Penetração no Solo) e pesquisas por meio de escavação, que serão feitas no terreno do o DENIT, na fazenda Caçador e Tabocão; nas bases de Bacaba e Xambioá e a fazenda Água Fria; a Clareira Cabo Rosas e as regiões do complexo Matrinchã, Dois Coqueiros e na Reserva Indígena Sororó.

De 3 a 9 de agosto, a equipe técnica topográfica do Exercito vai trabalhar na preparação das áreas definidas e no dia 10 terá inicio os trabalhos de escavação A primeira área a ser escavada será o pátio onde hoje funciona o DENIT, na cidade de Marabá, conhecida na época como casa azul, que serviu de base operacional das forças militares da guerrilha e para onde eram levados os guerrilheiros capturados. Segundo relatos, após serem interrogados e barbaramente torturados, os prisioneiros eram executados e ali mesmo enterrados.

Em seguida serão escavadas as áreas de Caçador e Tabocão, ambas indicadas por mateiros e definidas pelo grupo como áreas com grande probabilidade de ser encontradas ossadas dos guerrilheiros. Em Caçador ocorreu um confronto entre os militares comandados pelo doutor Asdrubal, codinome do major Licio, e os guerrilheiros Zé Carlos (André Grabois), Alfredo (camponês da região que aderiu à guerrilha), Zebão (João Gualberto) que morreram no local e o Nunes ou Goiano (Divino Ferreira), que após ser baleado foi capturado e levado para a casa azul em Marabá.

Esta informação foi repassada por Vanu, guia dos militares naquela ocasião, e que no último dia 27, terça feira, acompanhou a equipe até o local e apontou com detalhes a batalha e onde deixou os corpos a mando do doutor Asdrubal. Vanu disse ainda que as escavações realizadas na região pelos antropólogos argentinos em 2004 ocorreram do lado oposto de onde realmente ocorreu, uma vez que as pessoas que repassaram as informações para eles não sabiam o lugar exato do ocorrido.

Já em Tabocão, as escavações serão feitas com base nas informações que foram repassadas ao GT por Abelinho e Zé Catingueiro. Ambos atuaram como guias do Exército na época, sendo que o primeiro acompanhava os militares no alvorecer em que surpreenderam e atacaram os guerrilheiros Paulo (Paulo Mendes) e Joaquim (Angelo Arroyo), quando eles preparavam beiju. No embate, Paulo morreu e Joaquim conseguiu escapar com vida. Catingueiro, que chegou ao local pouco tempo depois guiando outra equipe de militares, viu Paulo sendo enterrado e apontou para o grupo o que segundo ele é o local exato onde o carpo foi deixado. O grupo considerou coerentes e seguras as informações prestadas pelos dois guias; daí a decisão de escavar imediatamente a área.


É de se destacar, nesta primeira etapa, a disposição, o empenho e a determinação de toda a equipe em localizar os restos mortais dos combatentes da guerrilha do Araguaia, apesar de todas as dificuldades, pois invariavelmente as áreas onde ocorreram os embates e os locais em que supostamente foram enterrados e ou abandonados os corpos encontram-se totalmente modificados pelo desmatamento e pela plantação de capim.

De Marabá, Egmar José de Oliveira, advogado e observador do PCdoB no Grupo de Trabalho e Paulo Fontelles Filho, filósofo e representante do governo do Estado do Pará


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