29.3.08

Protestos estudantis iniciam com vitória em SP e luta na BA


26 DE MARÇO DE 2008 -
Protestos estudantis iniciam com vitória em SP e luta na BA


Depois da pressão exercida por entidades do movimento social e estudantil, o governador José Serra (PSDB) anunciou esta terça-feira (25), o fracasso do leilão da Companhia Energética de São Paulo (Cesp). A decisão foi considerada uma vitória para o movimento estudantil paulista que comemorou com passeata no centro de São Paulo o fracasso do leilão. Na Bahia, cerca de cinco mil estudantes também protestaram por mais investimentos na educação.
''Realizamos um ato em comemoração a essa vitória, mas nos manteremos atentos a qualquer tentativa de privatização de empresas brasileiras'', anunciou o presidente da União Paulista dos Estudantes Secundaristas (Upes), Arthur Herculano.

O cancelamento do leilão de privatização da Cesp foi uma vitória do povo, na avaliação do presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Wagner Gomes.

“A Cesp é uma empresa de um setor estratégico da economia nacional e a sua manutenção nas mãos do Estado é fundamental para que o Brasil tenha a segurança de uma infra-estrutura energética razoável para a sustentação de um crescimento econômico duradouro”, sintetizou Wagner Gomes ao se pronunciar contra o leilão.

Protesto em SP

Cerca de mil manifestantes, segundo a Polícia Militar, participaram na manhã desta quarta-feira (26) do ato em defesa da educação e contra privatizações promovido pela União Nacional dos Estudantes (UNE) e pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes). Segundo os organizadores, duas mil pessoas participaram da manifestação.

O protesto começou por volta das 8h na Praça da Sé, no Centro de São Paulo, passou pela Bolsa de Valores (Bovespa) e terminou no Largo São Bento, às 13h. Segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), não houve registros de transtornos ao trânsito.

Além da comemoração do fracasso, por falta de concorrentes, do leilão da Cesp, os estudantes protestaram por mais verbas para a educação. “Fizemos um grande carnaval de comemoração”, disse a presidente da UNE, Lúcia Stumpf.

A manifestação desta manhã abriu a Jornada de Lutas das entidades estudantis que promovem, até dia 28 de março, atos em todas as capitais do Brasil.

“O ato foi importante para demonstrar que o movimento popular está unido em defesa da Cesp”, disse Carlos Rogério Nunes, secretário de comunicações da CTB, que esteve no ato e falou em nome da central. “O governo Serra certamente voltará a tentar realizar o leilão e é importante que este movimento não se disperse para que possamos derrotar as novas investidas contra a Cesp”, explicou.

''Bacia das almas''

Silêncio sepulcral abateu-se no Palácio dos Bandeirantes depois do fracasso do leilão da Cesp. Depois de pressionado pela grande imprensa, Serra falou e disse que os compradores tentaram, até o fim, diminuir o preço mínimo para a compra da estatal.

''O pessoal queria um valor menor, mas nós não vendemos na bacia das almas'', disse o governador a jornalistas. Serra disse também que os interessados tiveram dificuldades para captar financiamento no exterior, em virtude da crise internacional puxada pelos Estados Unidos.

Mas há outro elemento nesse quesito empréstimo. Os interessados - CPFL, Neoenergia, EDP Energia do Brasil, Tractebel e Alcoa – buscaram o BNDES para tentar obter capital. Porém, as entidades da Frente Paulista Pelos Serviços Públicos e Contra a Privatização ameaçaram ingressar com uma ação para impedir o banco de financiar a ‘simples’ mudança de controle da Cesp. As atuais regras do órgão estabelecem que o dinheiro pode subsidiar somente o ingresso de grupos que atuem na construção de novas usinas para aumentar a oferta de energia no país.

Vitória da resistência

A verdade é que o novo fracasso é resultado da pressão e da resistência dos trabalhadores e dos movimentos sociais que continuam denunciando as inúmeras ilegalidades, resultado da pressa do trator tucano.

Para Edílson de Paula, presidente da CUT-SP, agora o governo terá que discutir com a população a entrega do patrimônio estatal. ''Ficamos satisfeitos com essa grande vitória dos trabalhadores. Espero que a situação mostre ao governador que só se governa um Estado com a participação da população'', apontou.

''No governo Lula, a gestão tucana não teve a mesma facilidade para conseguir dinheiro, inclusive no BNDES, como teve o ex-governador Alckmin durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso'', alerta Gentil Teixeira de Freitas, secretário geral do Sindicato dos Trabalhadores Energéticos do Estado de São Paulo (Sinergia-SP).

''O patrimônio construído com o suor do povo tem que ficar nas mãos da população'', completa. O governo federal, inclusive, não renovou a concessão das usinas de Ilha Solteira e Jupiá, que Serra queria que integrassem o pacote (embrulhado para presente) de venda da CESP.

O ''jornalão'' do Serra

Ismael Cardoso, presidente da Ubes ''o ato teve um caráter de denunciar coisas que a sociedade não sabia, como o jornal e a reforma curricular implementada pelo governo de São Paulo. Além de não ter aceito à recomendação de reincluir sociologia e filosofia no currículo, o governo tucano está retirando, sem conhecimento da população, a disciplina geografia do tuno da noite. O movimento estudantil vai continuar ocupando às ruas contra essa reforma curricular e já temos manifestações programadas para o mês de abril''.

O movimento secundarista destacou o problema da qualidade do ensino público estadual. O ''jornalão'', cartilha implantada pela secretaria de educação para ''nivelar'' o conhecimento dos estudantes do ensino fundamental e médio, é alvo de ira dos estudantes e tido como símbolo do descaso do governo.

Para Augusto Chagas, presidente da União Estadual dos Estudantes de São Paulo, ''a manifestação demonstrou a força do movimento estudantil paulista e deu visibilidade à reivindicações. Além disso, usamos a irreverência da juventude, fazendo um carnaval fora de época para comemorar o fracasso do leilão da Cesp, que ia ser feito praticamente às escondidas pelo governo. Demonstramos que os estudantes são contra o objetivo de José Serra de retomar a queima de patrimônio público em nosso estado''.

5 mil estudantes na Bahia

Com uma pauta de reivindicações diversas, estudantes universitários e, majoritariamente, secundaristas realizaram uma passeata nesta quarta-feira em Salvador. A manifestação - promovida pela UNE e pela Ubes e apoiada por várias entidades estudantis - reuniu cerca de cinoc mil pessoas no Campo Grande, segundo a Superintendência de Engenharia de Tráfego (Set), e depois seguiu até a Praça Municipal, chamando a atenção da população para os problemas relativos à educação no Brasil.

Eles reivindicaram o aumento do número de vagas nas universidades, assim como a ampliação da assistência estudantil.

“É necessário que se garanta a permanência do aluno carente nas Universidades, com bolsas-auxílio, restaurantes e residências estudantis”, afirma o presidente da União dos Estudantes da Bahia (UEB), Jéferson Conceição.

Eleições diretas para diretor na Bahia

No âmbito estadual, os manifestantes querem eleições diretas para os cargos de diretor e vice-diretor das escolas públicas. Para eles, uma maior atenção deve ser dada às universidades estaduais, que poderiam ter o número de vagas ampliado, além de cotas para estudantes oriundos do sistema público de educação.

Segundo a assessoria de comunicação da Secretaria Estadual de Educação, a proposta de uma escolha democrática dos dirigentes escolares já foi encaminhada à Assembléia Legislativa do Estado e deve ser colocada em prática a partir do próximo ano.

Um dos focos da manifestação foi uma resposta antecipada aos rumores de um possível aumento nas tarifas de ônibus, que os estudantes consideram intolerável, e o questionamento sobre a gratuidade do serviço.

Passe livre em Salvador

“Deveríamos ter direito ao passe livre. Muitas vezes, nossos pais vão a pé para o trabalho para deixar o transporte com a gente, não é justo. Eu moro na Liberdade e estudo na Ribeira, já pensou?”, reclama o estudante secundarista baiano Felipe Rabelo.

Em relação a estas demandas, o prefeito de Salvador, João Henrique, apresentou o Decreto n° 17.127, publicado em 19 de janeiro de 2007, que garante a inalteração dos valores das passagens de ônibus até dezembro de 2008. No que se refere ao passe livre, no entanto, ele argumenta que os custos operacionais impossibilitam a inexistência de pagamento por parte de toda a classe estudantil.

Na manifestação, os estudantes também se mostraram a favor da limitação do capital estrangeiro nas universidades e contra a mercantilização da educação. “Já existem instituições de ensino negociando ações na Bolsa de Valores!”, indigna-se a diretora de comunicação da UEB, Juci Santana.

Os organizadores da passeata também prestaram homenagem ao estudante secundarista Edson Luís

Sobre a Jornada

A Jornada já é uma tradição das entidades que a cada ano, sempre no mês de março, elege um tema relacionado à educação, que esteja na ordem do dia.

Este ano a Jornada de Lutas elegeu as seguintes bandeiras: fim da Desvinculação das Receitas da União (DRU); gestão democrática nas escolas; aumento nas verbas, com 10% do PIB para a educação; limitação do capital estrangeiro nas universidades brasileiras; mais qualidade e acesso ao ensino superior.

Além das bandeiras que nortearão as manifestações pelo Brasil, a Jornada também relembra os 40 anos da morte do estudante secundarista Edson Luis, assassinado no restaurante Calabouço, no Rio de Janeiro em 1968, pela ditadura militar.

Fotos: Vanessa Stropp pelo Circuito Universitário de Cultura e Arte da UNE (Cuca)

Matéria modificada ás 20h30min do dia 27/03.

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