31.5.10

Portugal: 300 mil saem às ruas contra políticas antitrabalhistas

Mais de 300 mil pessoas ocuparam o centro de Lisboa contra a política de desastre nacional do Partido Socialista (PS) e do Partido Social Democrata (PSD) que compõem o núcleo da aliança governista portuguesa e que juntamente com o Partido do Centro Democrático e Social (CDS) estão promovendo uma série de medidas antitrabalhistas para tentar responder à crise econômica que ameaça seriamente o país.



Com as avenidas do centro da capital tomadas por uma verdadeira multidão, uma massa imensa de indignação, protesto e luta, respondeu ao apelo da principal central sindical do país, a CGTP. Milhares de funcionários públicos e assalariados do setor privado protestarm contra as medidas de austeridade anunciadas pelo governo português. "Basta!", "Que o desemprego deixe de subir!", "Não à austeridade!" e "Por uma estabilidade do emprego!" eram algumas das inscrições nas faixas exibidas entre diversas bandeiras sindicais.

Esta é, segundo os organizadores do protesto, a maior manifestação dos últimos anos, superando os 200.000 manifestantes que tomaram as ruas de Lisboa no dia 13 de março de 2009 para pedir melhores condições de trabalho. Para os comunistas portugueses, que participam com destaque das entidades sindicais, esta foi a maior manifestação das últimas décadas, uma clara demonstração da força, unidade e determinação da classe operária e de todos os trabalhadores.

"Esta impressionante jornada de luta reforçou a convicção de que é possível derrotar a política de desastre nacional, de abdicação dos interesses do país, de agravamento da exploração que o PS, o PSD e CDS querem impor aos trabalhadores e ao Povo", diz a direção do PCP (Partido Comunista Português).

"Perante a escalada de medidas contra os trabalhadores, o Povo e o país decididas nos últimos meses, esta foi a resposta do Povo português, às pretensões dos grupos econômicos e financeiros, uma clara exigência de ruptura com a política de direita, de mudança na vida nacional", reforçam os comunistas.




Desemprego

Empolgado com a multidão de manifestantes, o secretário-geral da CGTP, Carvalho da Silva, indicou que ali estavam dadas as condições para a convocação de uma greve geral. E que esta decisão é apenas uma questão de tempo.

Os líderes sindicais exortaram os manifestantes para estarem "disponíveis para todas as formas de luta num curto período de tempo".

O líder da CGTP desafiou o Governo a revogar as medidas consagradas no PEC (Programa de Estabilidade e Crescimento), as quais, na sua opinião, "são falsas soluções para a crise" econômica que afeta a Europa, porque vão apenas penalizar os trabalhadores e fomentar o desemprego.

E, neste capítulo, Carvalho da Silva fez questão de salientar o problema do desemprego nos mais jovens. "A juventude tem de estar sempre presente nas grandes transformações da sociedade", declarou, elencando os aumentos de impostos e diminuição dos benefícios sociais como medidas que penalizam os mais jovens.

O governo do PS, que se comprometeu a reduzir seu déficit de 9,4% do PIB em 2009 para 4,6% em 2011, justificou as novas medidas de austeridade com a necessidade urgente de sanear as finanças públicas frente ao risco de contágio da crise grega e à explosão das taxas de juros da dívida.

Como contrapropostas às enunciadas pelo Governo, o líder da CGTP apontou como caminhos para superar a crise econômica os "cortes nas parcerias público- -privadas e o combate à fraude e à evasão fiscal como medidas para sair da crise, o estímulo à economia interna e o combate à economia paralela e à corrupção".




Presidente vaiado


Depois de apontar baterias contra o governo do primeiro-ministro José Sócrates, as atenções de Carvalho da Silva viraram-se para o Palácio de Belém, sede da Presidência da República Portuguesa, ocupada atualmente por Aníbal Cavaco Silva (PSD): "O Presidente da República assiste a tudo numa atitude de apoio implícito e, para compor a participação no cenário, vai fazendo discursos moralistas. Não é isto que precisamos. Precisamos de um Presidente que trate dos problemas com rigor e transparência", declarou o dirigente sindical. Os manifestantes responderam com uma monumental vaia ao Presidente da República.

Apesar da mobilização, o dia também ficou marcado pelas declarações do secretário-geral da UGT, João Proença, que considerou que o protesto levado a cabo pela CGTP colocava em causa a imagem de Portugal nos mercados internacionais. Carvalho da Silva classificou-as de ofensivas. Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, foi mais longe: "É a posição de um vencido, de um conformado. Mesmo no seio da UGT há muita gente indignada." O líder do PCP declarou ainda que a adesão à manifestação mostra a disponibilidade dos portugueses para lutar. Já Francisco Louçã, dirigente do Bloco de Esquerda que também aderiu ao protesto, disse que "quando há crise o Governo retira medidas como a do apoio a 187 mil desempregados".




Ainda neste sábado, o gabinete de Imprensa do PCP emitiu nota reafirmando suas críticas às políticas de direita adotadas pelo atual governo. No documento, os comunistas portugueses reiteram que "para o grande capital, para os grupos econômicos e financeiros, para as potências da União Europeia, para aqueles a quem os sacrifícios nunca tocam, ficam os lucros e privilégios. É preciso agir! É urgente dizer basta!"

O PCP já marcou para os próximos dias 17, 18 e 19 de Junho três grandes protestos nos centros das cidades de Lisboa, Évora e Porto, respectivamente.

Da redação, Cláudio Gonzalez, com agências

Fotos: Arquivo PCP ( http://pcp.pt/fotografias )

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